04/08/2014 16h13 - Atualizado em 05/08/2014 15h04

Análise do levantamento da safra 2013/14 no Paraná

Durante os meses de dezembro de 2013 e janeiro e fevereiro deste ano as precipitações foram irregulares e ficaram abaixo da média em praticamente todas as regiões do Paraná. Também as temperaturas acima da média aumentaram a evapotranspiração e a perda de umidade do solo. Esta combinação de fatores climáticos reduziu a produção da primeira safra de soja e de milho e retardou o plantio da segunda safra do milho e do feijão.

As precipitações retornaram ao normal a partir do último decêndio de fevereiro e favoreceram o término do ciclo das lavouras de verão e o plantio e o desenvolvimento da segunda safra, embora uma parte da segunda safra de milho foi plantada fora do período recomendado.
Em junho, as chuvas foram muito acima da média histórica nas regiões centro-sul, sudoeste e oeste do Estado, principalmente durante o primeiro decêndio e superaram os 400 mm em diversas localidades. Elas provocaram alagamentos, destruição da infraestrutura, erosão laminar e profunda nas lavouras e perda de qualidade de parte da segunda safra do milho e feijão que estavam em processo de colheita.
Durante o mês de julho, tanto as precipitações quanto as temperaturas ficaram dentro da normalidade. As geadas de fraca intensidade se restringiram à região sul do Estado e não afetaram nem a segunda safra nem os plantios de inverno.

ARROZ
Segundo o DERAL/SEAB, a área plantada de sequeiro é de 10.912 hectares e a irrigada de 18.809 hectares, registrando recuos em relação à safra passada de 15% na de sequeiro 6% na irrigada. As previsões de produção são de 19.250 toneladas e de 136.455 toneladas, respectivamente, volumes 23% e 9% menores do que os colhidos na safra anterior. O plantio do sequeiro foi encerrado na primeira quinzena de dezembro e o irrigado no final do segundo decêndio. A colheita foi concluída. Na área de sequeiro, com produtividade de 1.769 kg/ha e na irrigada com 7.596 kg/ha.
Os produtores já comercializaram 56% da produção de sequeiro e 42% da irrigada.
Os preços médios recebidos pelos produtores foram levemente decrescentes de janeiro para fevereiro e crescentes em março e abril, quando os valores foram de R$ 52,68 e R$ 53,15 a saca do sequeiro e irrigado. Nos meses subsequentes os preços caíram e atingiram, em junho, os valores de R$ 46,90 e R$ 43,31 a saca, respectivamente, mas mantendo-se em patamares superiores aos preços mínimos. No final de julho, aumentaram para R$ 51,00 e R$ 47,80 a saca.

FEIJÃO 1ª, 2ª e 3ª SAFRAS
Segundo o DERAL/SEAB, na primeira safra, a área de 240.255 hectares e a produção de 405.651 toneladas são 12,0% e 23,1% maiores do que os números verificados na safra 2012/13, frustrada por adversidades climáticas. Os elevados preços recebidos pelos produtores na comercialização da safra 2012/13 motivaram a ampliação da área cultivada.
A colheita foi encerrada há três meses e os produtores já venderam 96% da produção.
Os números referentes à segunda safra foram corrigidos e apontam a área de 275.137 hectares, 4,2% maior do que a safra 2013, e a previsão de produção de 403.682 toneladas será 18,9% maior do que a colhida no ano anterior, frustrada por adversidades climáticas, mas significativamente menor do que a inicialmente prevista, também em função dos problemas climáticos ocorridos. O plantio foi concluído em março e a colheita foi encerrada neste mês, registrando produtividade de 1.512 kg/ha. Apenas 65% da produção foram comercializadas pelos produtores.
Na terceira safra, de inverno, a previsão de área e produção é de 4.917 hectares e 4.786 toneladas. A área e a produção são 20,6% e 2,8% menores do que na de 2013. O plantio foi atrasado pelas chuvas e concluído neste mês. A colheita já se verificou em 51% da área e nas demais a cultura se encontra nas fases de desenvolvimento vegetativo (24%), floração (1%), frutificação (13%) e maturação (62%).
Os preços recebidos pelos produtores retrocederam em janeiro e se recuperaram em fevereiro e março, quando a média foi de R$ 110,86 a saca do feijão de cor e R$ 141,19 a saca do preto. Nos meses seguintes estas médias retrocederam e ficaram em junho em R$ 63,09 e R$ 95,17 a saca, respectivamente.
O governo, no final de maio, liberou R$ 2,0 milhões para a compra do feijão cor no Paraná, para garantir aos produtores o recebimento do preço mínimo. Em junho e julho foram alocados mais R$ 20,4 milhões. Depois da intervenção do governo no mercado os preços praticamente se estabilizaram e no final de julho os produtores receberam R$ 66,44 e R$ 96,04 a sacado cor e do preto.
MILHO 1ª e 2ª SAFRAS
O DERAL estimou a área da primeira safra em 671.885 hectares, 23,3% menor do que aquela cultivada na safra anterior, e a produção em 5,379 milhões de toneladas, 24,0% inferior que a colhida na safra 2012/13 e, em parte, afetada pelo clima quente e seco. A cultura perdeu área para a soja e o feijão.
A colheita foi concluída no início de junho e a produtividade média foi de 8.006 kg/ha.
A área estimada para o plantio da segunda safra é de 1,901 milhão de hectares, 12,0% menor do que aquela cultivada na safra anterior, e a previsão de produção soma 10,207 milhões de toneladas, 0,3% inferior que a colhida em 2013. A queda na área cultivada se explica pela redução dos preços de mercado do milho no final do ano passado e pelos bons preços do trigo.
O plantio foi atrasado pela seca e concluído no início de abril. Cabe ressaltar que a época ideal expirava em 20 de março. A colheita já ocorreu em 46% da área e a produtividade foi de 5.608 kg/ha. Nas demais, em 15% das lavouras a cultura se encontra em frutificação e 85% em maturação.
Da primeira safra 2013/14 os produtores já venderam 74% da produção e 16% da segunda safra.
Os preços internos, que estavam em queda até o final do ano passado, se recuperaram no primeiro trimestre deste ano, devido à redução da área plantada e dos problemas climáticos que afetaram o potencial produtivo da primeira e da segunda safras. Também contribuíram para esta reação o desempenho das exportações em 2013 e o aumento na taxa de câmbio. No Paraná, em novembro, o preço médio recebido pelos produtores ficou em R$ 17,81 a saca, levemente acima da média de outubro de R$ 17,26 a saca. Nos meses seguintes, os preços recebidos pelos produtores reagiram, chegando a R$ 23,29 em março. O baixo volume exportado neste ano e a previsão de recuperação da safra americana provocaram a reversão do movimento nos meses subsequentes e a média de junho ficou em R$ 20,03 a saca e, no final de julho os produtores receberam R$ 18,73 a saca.
É praticamente certa a necessidade da intervenção do governo no mercado para garantir aos produtores o recebimento do preço mínimo a partir do final do mês de agosto.

SOJA
A relação mais favorável dos preços da soja em relação ao milho induziu ao aumento de 5,0% na área plantada da leguminosa, para 4,908 milhões de hectares, segundo o DERAL/SEAB. A estimativa de produção de 14,579 milhões de toneladas é 7,7% inferior ao volume colhido em 2012/13 e embute uma perda de praticamente 1,4 milhão de toneladas devido a condições climáticas adversas (seca e temperaturas elevadas).
A colheita foi encerrada no início de maio e registrou produtividade de 2.970 kg/ha.
Os produtores já venderam 74% da safra 2013/14.
O plantio da segunda safra de soja, apesar de não recomendada tecnicamente, será de 108.160 hectares e a estimativa de produção de 195.308 toneladas, números 33,7% e 50,1% maiores do que os verificados em 2013. O plantio foi concluído em março e a colheita na primeira quinzena de julho, com produtividade de 1.824 kg/hectare.
Nos meses de novembro e dezembro de 2013, os preços médios recebidos pelos produtores ficaram mais elevados do que a média de outubro. No mês de dezembro, o preço médio foi de R$ 66,73 a saca. A baixa disponibilidade do produto para entrega imediata, o aumento da taxa de câmbio, a leve recuperação das cotações internacionais e a firme demanda mundial explicaram esta situação. No entanto, durante o primeiro semestre deste ano, os preços recebidos ficaram abaixo do valor de dezembro e em junho a média foi de R$ 60,87 a saca, em função das menores cotações internacionais e dos prêmios também menores. No final de julho os produtores receberam R$ 57,5 a saca. O aumento da área cultivada e da produção norte-americana na safra 2014/15 sinaliza preços ainda menores para a soja, principalmente a partir da entrada desta produção no mercado.
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CULTURAS DE INVERNO
O DERAL/SEAB também divulgou nova estimativa de área e produção para as culturas de inverno, bem como os percentuais de aumento ou redução comparativamente ao desempenho da safra 2013.
Aveia branca: 57.812 hectares (-6,3%) e 141.046 toneladas (52,7%)
Aveia preta: 144.310 hectares (-13,4%) e 193.582 toneladas (84,2%)
Canola: 6.288 hectares (-59,5%) e 9649 toneladas (9,1%)
Centeio: 1.252 hectares (24,1%) e 2.745 toneladas (57,0%)
Cevada: 54.221 hectares (16,8%) e 225.018 toneladas (17,4%)
Trigo: 1.350.246 hectares (35,0%) e 3.982.460 toneladas (109,2%)
Triticale: 13.305 hectares (-21,5%) e 38.095 toneladas (2,2%)
O plantio da aveia branca finalizou este mês e 1% da área já foi colhida. Nas demais a cultura atravessa as fases de desenvolvimento vegetativo (24%), floração (30%), frutificação (37%) e maturação (9%). O plantio da aveia preta também foi encerrado e 1% da área foi colhida. Nas demais, a cultura atravessa as fases de desenvolvimento vegetativo (45%), floração (33%), frutificação (18%) e maturação (3%).
A canola perdeu área para o trigo e o plantio foi concluído no início de junho. A colheita ocorreu em 1% da área e nas demais a cultura se encontra em desenvolvimento vegetativo (16%), floração (53%), frutificação (25%) e maturação (6%). O produto colhido foi comercializado pelos produtores.
O plantio do centeio foi concluído neste mês e a cultura se encontra nas fases de desenvolvimento vegetativo (76%), floração (8%) e frutificação (16%).
A cevada foi totalmente plantada e a cultura se encontra nas fases de desenvolvimento vegetativo (99%) e floração (1%).
A semeadura do trigo foi concluída neste mês e em menos de 1% da área já ocorreu a colheita. A cultura atravessa as fases de desenvolvimento vegetativo (43%), floração (26%), frutificação (29%) e maturação (2%). Apenas 2% da produção já foram comercializadas antecipadamente pelos produtores e a preços decrescentes desde maio, quando os produtores receberam em média R$ 42,59 a saca. Em junho, a média foi de R$ 41,78 e no final de julho R$ 35,08 a saca. Com a disponibilidade de maior volume no mercado a partir de setembro, os preços ficarão abaixo do mínimo de garantia do governo.
A semeadura do triticale também foi concluída e 61% da cultura se encontram em desenvolvimento vegetativo, 28% em floração e 11% em frutificação.
As condições de clima nos meses de abril e maio favoreceram as operações de plantio e o desenvolvimento das culturas de inverno. Em junho, o excesso de chuva provocou erosão e o retardamento do plantio e atrapalhou o combate às pragas e doenças. Também em julho, as frequentes precipitações em algumas regiões prejudicaram o combate às doenças e não ocorreram geadas que afetassem o potencial produtivo das lavouras.

Em 04 de agosto de 2014.

Eugênio Stefanelo COLUNISTA Eugênio Stefanelo
SAIBA MAIS SOBRE O COLUNISTA
Apresentador do programa Negócios da Terra, professor da UFPR e doutor em economia agrícola.

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