30/05/2014 17h31 - Atualizado em 30/05/2014 17h31

Análise da situação da safra 2013/14 no Paraná

Por Eugênio Stefanelo

Durante os meses de dezembro de 2013 e janeiro e fevereiro deste ano as precipitações ficaram abaixo da média em praticamente todas as regiões do Paraná. Também foram irregulares, favorecendo as culturas de verão nas áreas onde ocorreram e provocando queda na produtividade da soja e do milho nas lavouras onde não se verificaram em volume suficiente. Também as temperaturas acima da média aumentaram a evapotranspiração e a perda de umidade do solo. Esta combinação de fatores climáticos causou redução da produção da primeira safra de soja e de milho e retardou o plantio da segunda safra do milho e do feijão.
As precipitações retornaram ao normal a partir do último decêndio de fevereiro, continuam até o presente momento e favoreceram o término do ciclo das lavouras de verão e o plantio e o desenvolvimento da segunda safra, embora uma parte da segunda safra de milho foi plantada fora do período recomendado.

ARROZ
Segundo o DERAL/SEAB, a área plantada de sequeiro é de 10.912 hectares e a irrigada de 19.240 hectares, registrando recuos em relação a safra passada de 15% na de sequeiro 4% na irrigada. As previsões de produção são de 19.267 toneladas e de 134.714 toneladas, respectivamente, volumes 23% e 11 % menores do que os colhidos na safra anterior. O plantio do sequeiro foi encerrado na primeira quinzena de dezembro e o irrigado no final do segundo decêndio. A colheita já ocorreu em 98% da área de sequeiro e com produtividade de 1.772 kg/ha. Na área restante a cultura se encontra em maturação. Na irrigada 94% das lavouras já foram colhidas, com produtividade de 6.973 kg/ha. Nas demais lavouras 7% atravessam a fase de floração, 34% a de frutificação e 59% a de maturação.
Os produtores já comercializaram 34% da produção de sequeiro e 39% da irrigada.
Os preços médios recebidos pelos produtores foram levemente decrescentes de janeiro para fevereiro e crescentes em março, quando alcançou R$ 53,79 a saca do sequeiro e R$ 51,89 a saca do irrigado. Em abril estes valores foram de R$ R$ 52,68 e R$ 53,15 a saca e no final de maio R$ 51,00 e R$ 53,41 a saca, respectivamente, mantendo-se em patamares superiores aos preços mínimos.

FEIJÃO 1ª, 2ª e 3ª SAFRAS
Segundo o DERAL/SEAB, na primeira safra, a área de 240.836 hectares e a produção de 410.224 toneladas são 12,0% e 25,0% maiores do que os números verificados na safra 2012/13, frustrada por adversidades climáticas. Os elevados preços recebidos pelos produtores na comercialização da safra 2012/13 motivaram a ampliação da área cultivada.

A colheita foi encerrada há três meses e 92% da produção já foram vendidas pelos produtores. Os preços recebidos retrocederam em janeiro e se recuperaram em fevereiro e março, quando a média foi de R$ 110,86 a saca do cor e R$ 141,19 a saca do preto. Em abril estas médias ficaram em R$ 108,50 e R$ 137,46 a saca e no final de maio os preços recuaram para R$ 73,62 e R$ 105,14 a saca, respectivamente.

O governo, no final de maio, liberou R$ 2,0 milhões para a compra do feijão cor no Paraná, para garantir aos produtores o recebimento do preço mínimo. A SUREG solicitou a alocação de mais recursos para a compra de 20 mil toneladas em junho.

Os números referentes a segunda safra apontam a área de 259.117 hectares, 2% menor do que a safra 2013, e a previsão de produção de 454.929 toneladas será 34% maior do que a colhida no ano anterior, frustrada por adversidades climáticas, mas menor do que a inicialmente prevista. O plantio foi concluído em março e em 46% da área já ocorreu a colheita, com produtividade de 1.657 kg/ha. Nas demais, a cultura atravessa as fases de frutificação (20%) e maturação (80%). Apenas 17% da produção foram comercializadas pelos produtores.
Na terceira safra, denominada de inverno, a previsão de área e produção é de 5.910 hectares e 6.022 toneladas. A área é 5% menor do que a de 2013 e a estimativa de produção é 22% maior. O plantio já ocorreu em 90% da área e a cultura se encontra nas fases de desenvolvimento vegetativo (28%), floração (30%), frutificação (30%) e maturação (11%).

MILHO 1ª e 2ª SAFRAS
O DERAL estimou a área da primeira safra em 668.259 hectares, 24,0% menor do que aquela cultivada na safra anterior, e a produção em 5,333 milhões de toneladas, 25,0% inferior a colhida na safra 2012/13 e em parte afetada pelo clima quente e seco. A cultura perdeu área para a soja, que tem maior liquidez e preços mais remuneradores, e para o feijão.

A colheita foi efetuada em 98% da área e a produtividade média foi de 8.051 kg/ha. Na área restante toda a cultura se encontra na fase de maturação.
Os ataques de pragas e doenças foram considerados normais e não provocaram queda da produtividade.
A área estimada para o plantio da segunda safra é de 1,906 milhão de hectares, 12,0% menor do que aquela cultivada na safra anterior, e a previsão de produção soma 9,960 milhões de toneladas, 3% inferior a colhida em 2013. A queda da área cultivada se explica pela redução dos preços de mercado do milho no final do ano passado e pelos bons preços do trigo até o presente momento.

O plantio foi atrasado pela seca, se recuperou com a volta das chuvas e foi concluído no início de abril. Cabe ressaltar que a época ideal expirava em 20 de março. A colheita já ocorreu em 1% da área. Nas demais, em 22% das lavouras a cultura se encontra em floração, 63% em frutificação e 15% em maturação.

Os produtores ainda não venderam 10% da produção da segunda safra de 2013. Da primeira safra 2013/14 os produtores já venderam 57% da produção e 6% da segunda safra.

Os preços internos, que estavam em queda até o final do ano passado, se recuperaram neste ano, devido a redução da área plantada e dos problemas climáticos que afetaram o potencial produtivo da primeira e segunda safras. Também contribuíram para esta reação o desempenho das exportações em 2013 e o aumento na taxa de câmbio. No Paraná, em novembro, o preço médio recebido pelos produtores ficou em R$ 17,81 a saca, levemente acima da média de outubro de R$ 17,26 a saca. Nos meses seguintes os preços recebidos pelos produtores reagiram, chegando a R$ 18,62 a saca em dezembro, R$ 19,47 em janeiro, R$ 20,98 em fevereiro e R$ 23,29 em março. Em abril se estabilizaram em R$ 23,04 a saca e no final de maio recuaram para R$ 20,99 a saca.

SOJA
A relação mais favorável dos preços da soja em relação ao milho induziu ao aumento de 5,0% na área plantada da leguminosa, para 4,911 milhões de hectares, segundo o DERAL/SEAB. A estimativa de produção de 14,546 milhões de toneladas é 8,0% inferior ao volume colhido em 2012/13 e embute uma perda de praticamente 1,5 milhão de toneladas devido as condições climáticas adversas (seca e temperaturas elevadas).

A colheita foi encerrada no início de maio e registrou produtividade de 2.962 kg/ha.

Os ataques de pragas e doenças foram considerados normais, inclusive da lagarta helicoverpa e da ferrugem, que comprometam a produtividade das lavouras. O ataque mais intenso foi da lagarta falsa medideira.

Os produtores já venderam 61% da safra 2013/14.

O plantio da segunda safra de soja, apesar de não recomendada tecnicamente, será de 108.127 hectares e a estimativa de produção de 196.351 toneladas, números 34% e 51% maiores do que os verificados em 2013. O plantio foi concluído em março e em 37% da área já ocorreu a colheita, com produtividade de 1.717 kg/hectare. Nas demais áreas a cultura se encontra nas fases de floração (7%), frutificação (15%) e 78% na de maturação.

No mês de novembro o preço médio recebido pelos produtores ficou em R$ 66,03 a saca, levemente mais elevado do que a média de outubro de R$ 64,10 a saca. No mês de dezembro o preço médio permaneceu em R$ 66,73 a saca. A baixa disponibilidade do produto para entrega imediata, o aumento da taxa de câmbio, a leve recuperação das cotações internacionais e a firme demanda mundial explicaram esta situação. No entanto, em janeiro deste ano o preço médio recebido foi de R$ 61,18 a saca, em função da menor cotação internacional e dos prêmios também menores.

Em fevereiro, março, abril e maio, os efeitos do clima sobre a safra sul americana, a firme demanda internacional, principalmente da China e a taxa de cambio deram novamente suporte para que o preço se recuperasse lentamente, atingindo as médias de R$ 62,03, R$ 63,36, R$ 61,83 e R$ 63,27 a saca no final de maio. O aumento da área cultivada nos EUA na safra 2014/15 sinaliza preços menores para a soja a partir da entrada da safra americana no mercado, no segundo semestre.

CULTURAS DE INVERNO
O DERAL/SEAB também divulgou a terceira estimativa de área e produção para as culturas de inverno, bem como os percentuais de aumento ou redução comparativamente ao desempenho da safra 2013.
Aveia branca: 57.311 hectares (-7%) e 141.665 toneladas (53%)
Aveia preta: 141.180 hectares (-15%) e 190.404 toneladas (81%)
Canola: 7.827 hectares (-50%) e 12.714 toneladas (44%)
Centeio: 1.202 hectares (19%) e 2.582 toneladas (48%)
Cevada: 51.900 hectares (12%) e 213.632 toneladas (11%)
Trigo: 1.323.939 hectares (32%) e 3.981.913 toneladas (111%)
Triticale: 14.235 hectares (-16%) e 45.554 toneladas (22%)

O plantio da aveia branca ocorreu em 62% da área e a cultura atravessa as fases de germinação (12%), desenvolvimento vegetativo (85%) e floração (2%). Da aveia preta se verificou em 63% da área, onde a cultura atravessa as fases de germinação (22%) e desenvolvimento vegetativo (78%).
A canola perdeu área para o trigo e o plantio atingiu 86% da área, onde a cultura se encontra em germinação (4%), desenvolvimento vegetativo (55%) e floração (41%).

O centeio foi plantado em 18% da área, onde a cultura se encontra nas fases de germinação (62%) e desenvolvimento vegetativo (38%).

A cevada é plantada mais tarde, ocorreu em 3% da área e toda a cultura se encontra na fase de germinação.

O trigo foi semeado em 61% da área e a cultura atravessa as fases de germinação (14%), desenvolvimento vegetativo (84%) e floração (2%). O aumento da produção no Paraná e no Rio Grande do Sul acaba com o argumento dos moinhos para que o governo elimine a tarifa externa comum na importação do cereal de países fora do MERCOSUL.

A semeadura do triticale ocorreu em 34% da área e 24% da cultura se encontra em germinação e 76% em desenvolvimento vegetativo.  As condições de clima nos meses de abril e maio favoreceram as operações de plantio e o desenvolvimento das culturas de inverno.

Em 30 de maio de 2014.

Eugênio Stefanelo COLUNISTA Eugênio Stefanelo
SAIBA MAIS SOBRE O COLUNISTA
Apresentador do programa Negócios da Terra, professor da UFPR e doutor em economia agrícola.

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